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quinta-feira, 28 de maio de 2015

VIDA E VITÓRIA

Foi evidente o incomodo nas pessoas 
quando aquele "pedinte" começou a
desenrolar o seu discurso.
Era um homem de uns 40 anos, vestido com simplicidade e gosto.
 Os passageiros nunca gostam desse tipo de invasão
em suas "viagens". 
Mas o homem foi firme:

"Minhas filhas gêmeas, nascidas a um mês, estão internadas na Unicamp...  tem sido muito dispendioso manter a esposa lá e pagar passagem para visitá-las. 
A gente espera tanto por um filho mas às vezes as coisas se complicam.
Os pedidos de adoção foram muitos mas não vou dar minhas filhas só porque sou pobre. 
Vou lutar por elas".

"Sou porteiro de um edifício comercial, meu pequeno salário não dá conta de tantas despesas...  
os vizinhos ajudaram mas não sou de abusar... fizemos um enxoval primoroso...  arrumei um quarto lindo pra elas, pintado de verde claro...  
até carrinho de gêmeos comprei..  
Mas hoje que é o dia de buscá-las,
 não tenho o suficiente".

Algumas pessoas antes "distraídas" acabaram lhe dirigindo o olhar. Era difícil resistir. 
Comentários sobre o que é golpe e o que não é, vinham em sussurros. Peguei da bolsa um dinheiro que parecia razoável e chamei o homem.

"Obrigado bondosa senhora" e beijou minha mão. "
" E o nome das meninas já foi escolhido. 
Vão se chamar Vida e Vitória,  porque já nasceram vencedoras".

No meio dessa emoção ainda pensei...  parece um discurso bonito demais para ser verdadeiro... sei lá.  Mas como Psicóloga, tenho bastante experiência para saber que todas as histórias humanas, exatamente por serem humanas, são belas poesias.

Se foi um logro, o carma é dele, não meu. 
Saí do trem pensando... poderia ter dado um dinheiro ainda maior, um que fizesse diferença. E eu tinha,
 não estava sobrando mas tinha.

São os dilemas do dia a dia que sacodem nossas certezas ao mesmo tempo que nos redimem.
Recebo boas pessoas em meu consultório, deprimidas por não conseguirem identificar seu lugar no mundo, um lugar honesto e justo para elas e os demais. 

É difícil discernir um parâmetro de dedicação entre
 o BÁSICO, o SUFICIENTE, o NECESSÁRIO e o IDEAL.  
Os que não se corrompem
vão sendo corroídos pelo conflito entre 
SOBREVIVER, VIVER E GERAR MAIS VIDA.
Graças a Deus e a muitos de nós, parece que a ESPERANÇA ainda sobrevive impávida

Mesmo que  Vida e Vitória sejam apenas uma ficção, espero que não seja. É provável que nunca venham a saber que já fizeram a diferença com tão pouco tempo de vida, pelo menos para mim e quem sabe 
para alguns que me leem nesse exato instante.
Maria Teresa Reginato
Psicóloga - CRP 17927
teresa@teresareginato.com.br

Um comentário:

ACRESCENTE...,sua reflexão é muito bem vinda.

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