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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

DESALENTO




A gente vem caminhando pela vida, cai, levanta e cai de novo... 

Alguns tombos são assistidos por alguém, embora nem sempre possa nos amparar o baque ou ajudar a levantar.
 Outros são tropeços solitários, momentos de frustração ou perdas subjetivas de coisas cujo valor somente nós temos consciência real.


Tem gente que faz pouco de nós, quando caímos. Mas como disse Shakespeare: “...não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam”. 



Às vezes falta fôlego, ânimo, coragem, resistência e temos a impressão de que é o “fim da estrada”, a “beira do abismo”, a “derradeira oportunidade”. Então vem um abatimento, o desânimo e a depressão, lugar solitário que ninguém visita dentro da alma do outro.


É uma aflição que não tem tamanho, uma vontade de despir-se de si, de “parar o trem e descer em qualquer estação”, desde que se possa sair dali para respirar



Quando alguma coisa nos faz perder as esperanças ou a última esperança de todas que já foram descartadas, o desalento pode ser um sentimento difícil de evitar. 

Alguns reagem enfurecidos, atacando tudo e todos, complicando situações já inflamadas e perdendo ainda mais. Não é sempre que expressar a raiva tem efeito revigorante embora sufocá-la também seja adoecedor. 

É aí que muita gente somatiza, ou seja, adoece fisicamente, e de certa forma a enfermidade os desvia do sofrimento original. A dor física nos induz a uma reorganização de prioridades; passamos a encarar as perdas subjetivas como abalos de menor relevância.
Quando estamos mais próximos da morte,  tendemos a dimensionar com realismo, o que é ter um desafio que realmente não depende de nós. Isso ajuda a criar coragem para enfrentar os que dependem.

Deprimir, pode vir a ser uma forma de "fechar para balanço" e sair fortalecido, depois. Mas algumas pessoas se posicionam diante de um dilema como crianças assustadas e não conseguem se mover. São como um motorista querendo acelerar, com o freio de mão puxado. Ficam tentando adivinhar o melhor resultado ao invés de partir para a luta.

"O  futuro a Deus pertence", diz o dito popular. É preciso escolher um caminho e sair andando. Alguma coisa sempre acontece para nos tirar do atoleiro.  

Diante de algumas perdas há quem se sinta vítima de uma perseguição invisível. E ao se considerar injustiçado e desprezado, o homem se abandona quando mais necessita de seu próprio apoio, afasta-se daqueles que o amam e em quem poderia confiar e se distancia de suas práticas de fé, quando mais precisa de força e proteção. 

Há os se recolhem em autocomiseração, isolando-se com seus pensamentos sombrios, facilitando o acesso das sugestões autodestrutivas. Muitas vezes emitem avisos sutis:
“Queria sumir”, “acabou tudo”, “acho que para mim chega”..., sinais de intenções suicidas, jogados no cotidiano. 

O desalento pode ser um momento em que o sofrimento já não dói tanto quanto antes, um tipo de anestesia emocional. E é quando a pessoa perde o medo de morte, ou melhor, da dor da morrer. 

O suicídio é uma das tantas realidades cuja existência negamos. É por esse motivo que não percebemos seus “recados”, deixados bem debaixo do nosso nariz. 

O momento limite no qual alguém “perde as esperanças” é um ponto totalmente particular. Cada pessoa tem uma “reserva de energia”, um nível de tolerância à frustração, uma potencial capacidade de superação.

 Vai depender dos desafios que precisou enfrentar pela vida afora, do equilíbrio entre o afeto recebido e as exigências familiares e do nível de autonomia que foi capaz de alcançar.Também está ligado à saúde do organismo como um todo e à genética.

 Por tudo isso não há como julgar ou prever a reação de alguém diante de uma situação fronteiriça. 

É imperativo conhecer-se melhor. 
Com o autoconhecimento vem a consciência das potencialidades e o entendimento dos limites de cada um.

 Mesmo assim, por vezes a desolação fala mais alto e é preciso ser honesto o bastante para reconhecer a hora de procurar ajuda profissional.

Sobretudo, procure compartilhar tanto vitórias quanto derrotas. 

As pessoas tem medo da inveja e as consequentes “maldades” que os possam atingir. Mas é a cultura da imagem que cria as distorções, principalmente para os que estão sofrendo. 

Ao democratizarmos as conquistas, estamos alimentando no outro a confiança de que pode acontecer com ele, de que é possível.
 Quanto aos fracassos, podem ajudar alguém a não ficar imaginando que todos são perfeitos e afortunados, menos ele. 

Precisamos voltar a nos interessar pela vida das pessoas à nossa volta, para que a realidade das relações humanas não se limite a um “salve-se quem puder”. 

Somos semelhantes, porém não somos iguais, mas é sempre bom quando reconhecemos a humanidade comum a todos nós.
 Isso reforça os elos e com eles a solidariedade, antídoto contra o abandono, a solidão e o desalento.


Maria Teresa Reginato – Psicóloga
Visite o site  http://www.facaterapia.com.br/

Um comentário:

  1. SER ¨com-paixão¨.
    Aprofundar o olhar para além das opacidades imagéticas produzidas pela sociedade do espetáculo(?) que reduz a existencia a 15 minutos de fama(sic).
    Sentir profundamente para perceber o entorno...o interdito...o não dito ...que possibilita o Outro por detrás das máscaras e nos permite um sentido que justifique o nosso existir...humano.

    ¨Se podes olhar vê.Se podes ver,repara".

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ACRESCENTE...,sua reflexão é muito bem vinda.

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