O PAI E O MUNDO

A relação com o pai começa na forma como o homem recebe a gravidez da mulher, o que também acontece com a mulher, de forma diferenciada. Essa recepção determina o modo como esse pai vai ser “apresentado” ao filho, pela mãe. Um companheiro confiável, amável, colaborador e cúmplice será “apresentado” ao filho como um pai detentor de segurança, afeto, apoio e amizade; em contrapartida, o oposto dessas qualidades vai gerar uma imagem paterna negativa.
Um exemplo de companheirismo na paternidade está no comportamento do casal de pássaros João de Barro. No período em que a fêmea choca os ovos, o macho fecha a entrada da casa de barro deixando apenas uma abertura suficiente para introduzir alimentos, mas não grande o bastante para ameaçar a segurança do ninho. A posição da fêmea é de “total confiança no compromisso do companheiro em nutri-la e protegê-la”. Com isso, ela também aposta na sua habilidade em sobreviver – força e destemor- retornando com o alimento.

Fazendo um paralelo, o bebê aninhado no ventre materno precisa sentir que tem do lado de fora, a segurança que o permitirá abandonar o ninho confiante. Essa confiança é passada pela mãe, tendo como referência a postura do companheiro nesse momento. Mesmo que o bebe seja um pequeno ser com percepções limitadas pela imaturidade essa “apresentação” de faz de forma não verbal, através de tons de voz e/ou gestos que denunciam a percepção da mãe. Não se deve subestimar o ressentimento de uma gestante abandonada e sua capacidade de passar ao filho sua fragilidade. Ele decodificará a impressão que recebe como sendo de que “o mundo é árido e o desamparo será seu destino”. Desse ponto de vista o pai é a ponte entre a criança e o mundo com seus desafios, enquanto a mãe é a ligação entre a criança e ela mesma e é exatamente por esse motivo que as impressões maternas têm o poder de marcar a criança.
. A mãe induz essa conexão através do cuidado e carinhos para com o filho; o pai é a segurança que fará dessa criança alguém com coragem e determinação para romper a “casca do ovo” e encarar a vida.

É preciso compreender que o contato da mãe com o filho começa no ventre e o do pai... também.O pai é a SEGURANÇA, o que tanto homens como mulheres tendem a confundir com estabilidade material.
Faço essas ressalvas para salientar que, no modelo masculino que a mulher tem adotado para se “equiparar” ao homem, é comum que ambos fiquem concentrados nesse tipo de segurança como provedor ficando o bebê na mão de babás, mesmo em classes sociais onde a mulher tem estabilidade financeira para dedicar-se mais à fase inicial do desenvolvimento da criança. O resultado final desse desencontro é um pai que não desempenha adequadamente nem uma coisa nem outra. A mãe se queixa de que ele não colabora, mas não abre mão do provimento material ou da carreira e o pai continua sua vida como antes do nascimento do filho.
A presença de um bebê na vida de um casal causa profundas mudanças de caráter objetivo e subjetivo em ambos, não só para a mulher como muitas querem crer. Os sentimentos na paternidade são intensos e profundos porque significam mudanças e responsabilidades inéditas, mas isso por vezes passa despercebido para a mulher, já bastante envolvida com as preocupações maternas. É comum que essa apreensão do homem seja sentida pela companheira como rejeição ou indiferença, o que complica ainda mais as coisas.

A paternidade implica em um tipo de maturidade que passa por amar com desprendimento, mas o que define esse desprendimento é distinto do que acontece com a maternidade. O pai será compelido a desprender-se da companheira que temporariamente tem toda a sua energia voltada para o filho; desprender-se do conforto, da comodidade, das rotinas preestabelecidas, e das próprias inseguranças, já que um ser mais frágil precisa do máximo que ele possa oferecer, assim como a mulher que o concebeu necessita de presença e provimento ao mesmo tempo.
O pai “João de Barro” é o que se compromete completamente, o que deixará indelével marca na estabilidade emocional de seu filho. Na falta de um pai, por ausência, ignorância, imaturidade, dificuldades na relação com a mãe da criança ou outros fatores, a criança se torna refém de uma mãe dividida, ressentida, exaurida e solitária, o que quando não se pode evitar deve e pode ser contornado, mas dificilmente sem grande esforço e algum pequeno ou grande prejuízo. As mulheres têm usado o argumento de que hoje em dia o pai é dispensável, confundindo independência para conceber e/ou sustentar com a substituição da presença.

Homens e mulheres devem e podem resignificar essas condutas para reconstruir as relações familiares. Muito do individualismo presente no comportamento humano dos últimos tempos, tem a ver com ausência de pai, já que a criança desamparada aprende a pensar nela em primeiro lugar; é uma questão de sobrevivência emocional.
Repare, quando você pensa em mãe, vê a imagem de criança no colo não é mesmo? E quando pensa em pai? A imagem é de uma mão forte segurando a mão da criança, uma atitude que diz:
- VAMOS... EU LEVO VOCÊ, EU MOSTRO O CAMINHO, VOCÊ ESTÁ PROTEGIDO, EU CONHEÇO O MUNDO, VOU ENSINÁ-LO A LIDAR COM ELE, CONTE COMIGO.

PAI É ISSO... SÓ ISSO... TUDO ISSO.

Maria Teresa Reginato - Psicóloga
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