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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

PESSOAS À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS


O motorista confere a passagem e eu entro no leito, poltrona três, individual, foi a que sobrou pq eu escolheria a um mas já estava vendida. Reparo que o regulador de ar está quebrado, vou viajar com aquele ar gelado na cabeça, o que não me agrada nenhum pouco. Penso: flexibilidade Teresa, aceite as mudanças na programação. Eis que entra uma mulher tentando encontrar sua poltrona individual, comprara a numero um que faz dupla com a dois. "Mas me informaram que viajaria sozinha, eu não desejo viajar ao lado de ninguém", reclamava nervosa. "Posso trocar com vc", respondi...mas ela não me ouviu. Diz a moça da poltrona dois: "deixe-me ver sua passagem, pode haver algum engano". Inesperadamente a mulher explodiu: "pensa que eu não sei ler, pois fique sabendo que tenho nível superior, aliás, tenho até doutorado", gritou. "Pelo jeito toda a sua graduação não lhe deu educação", devolveu a jovem perplexa. Tento novamente, "pode sentar na minha, eu fico com a sua. Ela se acomoda em minha poltrona sem se dar ao trabalho de agradecer. "Bobagem, penso, era o que eu queria mesmo". A jovem da poltrona dois, ainda abalada acrescenta: " a senhora me desculpe se fui grosseira" ...não tinha sido na minha opinião ... mas não houve tempo de terminar. "Vc não abra mais essa boca, eu quero que vc vá para o inferno, vê se me deixa em paz. A moça calou-se visivelmente chocada enquanto a senhora tirava uma coberta da bolsa e se cobria escondendo a cabeça.

Já em São Paulo um episódio semelhante na fila para compra de passagens. Por um comentário banal do funcionário no guichê, o homem responde aos berros que sua mãe era mesmo uma vagabunda mas seu pai era um homem de caráter e ele, o filho, tinha seu valor, embora parecesse uma pessoa simples.

Mesmo com tanto tempo de experiência na clínica de pessoas em desequilíbrio, ainda me impressiona constatar como gente aparentemente normal pode estar no limite de sua capacidade de se ajustar a mínimas mudanças em suas rotinas como se suas vidas fossem desabar inexoravelmente a partir de um fato novo, mesmo que corriqueiro. Lembro-me de uma antiga paciente, uma farmacêutica muito tranquila, que resolveu procurar ajuda profissional quando inesperadamente pulou o balcão de sua farmácia para esganar o pescoço de um cliente que insistia em apontar erro no preço de um medicamento. Ela não entendia sua reação, nunca tinha acontecido uma perda de controle desse porte, ela nem sabia que poderia se comportar assim algum dia.

Afinal, como saber quando vc está a ponto de perder o controle sob suas reações? Algumas pessoas são visivelmente nervosas mas outras não, nem para elas mesmas. Estão acostumadas a controlar-se e amortecer o impacto de acontecimentos importantes em sua vida. Isso é saudável ou não? As situações são muito particulares para se ter um parâmetro geral. Pessoas que se aprofundam no auto conhecimento estão mais preparadas para perceber tais limites. Alguns sinais podem ser generalizados como por exemplo a baixa tolerância à mudança, principalmente as repentinas; forte intolerância a sons altos, cores ou odores marcantes, como se a pessoa estivesse intoxicada ou ressacada; sentimentos persecutórios, como se o mundo estivesse conspirando contra elas e a ausência de gratificação no resultado do que se faz ou recebe. Pessoas com reações furiosas provavelmente estão deprimidas mas nem sempre o reconhecem pq é mais fácil admitir na presença de sintomas clássicos como tristeza e apatia. Desconsidera-se a irritabilidade crescente e a tensão que não melhora com o descanso, dor de cabeça frequente e sem causa aparente ou dores pelo corpo que mudam de lugar e intensidade. É preciso estar atento, vc não precisa cometer um ato insano para concluir que está precisando de ajuda profissional. Cuide-se pq a vida exige reações de adaptação cada vez mais imediatas e tensão é exatamente o oposto da prontidão. Pessoas tensas e que não sabem descarregar essa tensão, são como "armas engatilhadas" e prontas para reagir de forma inesperada e violenta a qualquer momento. Hoje já se sabe da importância de exercícios e lazer para equilibrar as exigências de uma vida cheia de pressões mas em muitos casos a pessoa está acumulando tensões de vivências passadas com o estresse do presente e nesse caso só um trabalho psicoterapeutico poderá "limpar" essa carga. Além de consultar o médico e cumprir com os exames de rotina, faça mais, consulte um psicólogo pq não adianta muito o veículo ser novo e bem cuidado se o motorista vai de mau a pior.
Maria Teresa Reginato - Psicóloga
http://www.facaterapia.com.br/

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ACRESCENTE...,sua reflexão é muito bem vinda.

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